quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Orkut é coisa de pobre?


Eu lí esse texto no blog Coxa Creme, escrito pelo Ricardo Cavallini e não poderia deixar de compartilhar com vocês:
"Apesar do Orkut reinar absoluto, o crescimento de 524% do Facebook em 12 meses apresentado pela ComScore trouxe a comunidade pra moda.
E a leitura que muitos fazem hoje é: Facebook é “dazelite” e o Orkut “coisadipobre”.
Independente da expressão, classificar as comunidades desta forma pode até não ser preconceito, mas é, no mínimo, uma análise superficial das coisas.
Primeiro porque várias outras pesquisas demonstram que não existem diferenças significativas entre as classes quando se trata do consumo de conteúdo, entretenimento e redes sociais. Então, esta diferença pode ser apenas passageira. Segundo, é preciso colocar as comunidades em um contexto histórico.
O sucesso do Orkut
Quando lembramos da invasão brazuca ao Orkut, parece que somos como nuvens de gafanhotos. Entramos, dominamos tudo e irritamos os antigos moradores.
Seria possível criar várias teorias sobre os "porquês" de tamanha sede do brasileiro com as redes sociais, mas isso deixo para os publicitários metidos a sociólogos. O ponto é que a entrada da Classe C na internet e, posteriormente, no Orkut causou surpresa para muitos. Achavam que o acesso ao computador e a ausência do inglês seriam barreiras intransponíveis. O preconceito não está em entender estes pontos como barreiras (porque são), mas achar que são intrasponíveis.
Em outras palavras, o brasileiro era entendido como burro e pobre, o que era incompatível com a internet na visão de muitos. Ironicamente, foi justamente o brasileiro, burro e pobre, o primeiro povo a acolher as redes sociais com tamanha força.
Socializar na web virou realidade para o brasileiro, e o Orkut foi apenas a primeira comunidade a “ser invadida”.
Por quê o Facebook só começou a crescer agora?
Como muita gente enxerga o Facebook como uma ferramenta mais completa que o Orkut, cansei de escutar que o povo era burro e não percebia esta vantagem, que tinha preguiça de mudar ou qualquer outra explicação cheia de pré-conceitos ou preconceitos.
O ponto é que não adianta ser melhor. Achar que ser melhor é suficiente para causar uma migração imediata é tão estúpido quanto estimar o sucesso de um panetone olhando apenas suas informações sobre quantidade de carboidrato, proteína e gordura saturada.
Quem pensa assim, está centralizando seu raciocínio na ferramenta, e não no consumidor.
O custo de uma nova curva de aprendizado existe, mas não é o maior impeditivo para a mudança. Por qual motivo alguém iria mudar do Orkut para o Facebook quando todos os seus contatos já estão ligados, suas fotos devidamente uploadadas e organizadas e suas discussões e comunidades formadas?
Parafraseando Bob Metcalfe, inventor da Ethernet:
o valor sistêmico da comunicação é proporcional ao quadrado do número de membros conectados
O que ele quer dizer com isso? Simples: mesmo que o Facebook seja mais legal, mais completo, mais isso ou mais aquilo, o valor do Orkut (por enquanto) é muito maior, graças a quantidade de brasileiros que fazem parte e interagem dentro dele.
Orkut é coisa de pobre e Facebook de rico?
Tenho alguns números do TGI, infelizmente não tenho autorização do Ibope para mostrá-los, então darei apenas valores aproximados para explicar meus pontos.
O Facebook é formado principalmente por pessoas das classe AB (mais de 70%), enquanto a maior parte do Orkut é formada por pessoas das classes C/D/E.
Tendo o preconceito como filtro, é óbvio que o Orkut é coisa pobre e Facebook de rico.
Mas este é apenas um lado da moeda. Apesar da maior parte do Orkut ser formada pelas classes mais baixas, quase metade dele são de pessoas das classes AB (mais de 45%). Além disso, enquanto apenas uma pequena minoria das Classes AB está no Facebook (menos de 2%), metade está presente no Orkut. Olhando desta forma, seria possível defender que os ricos ainda preferem o Orkut.
Olhando todos os fatos, a conclusão mais lógica é que esta diferença acontece principalmente pela lerdeza da adoção do Facebook no Brasil, que pegou ritmo apenas nos últimos meses.
O que parece acontecer é que a migracao começa com as pessoas da classe AB.
Teria lógica se pensarmos que as pessoas mais abastadas tem mais tempo livre para experimentar, tem maior facilidade pelo domínio do inglês e, até mesmo por preconceito, buscar uma certa exclusividade em uma comunidade nova.
Preconceito é a melhor maneira para não ver a verdade. Pesquisas são a melhor forma para comprar ideias, tortas ou não. Junte as duas coisas e estará feita a merda".

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